sábado, 12 de janeiro de 2008

Entrevista: Graziela Massafera - "Eu só queria trabalhar"

- Este é o seu segundo trabalho, como está a correr?
Há um ditado brasileiro que diz que quem tem muita sorte nasce com o ‘bumbum’ virado para a Lua. Sou eu! Agora a sério, esforço-me e tento fazer o meu melhor, senão já não estava aqui.

- Mas a Globo acreditou no seu talento, senão não a teriam convidado para assinar um contrato até 2010...
Pois não. Eu estava a fazer ‘Páginas da Vida’, a trabalhar com Tarcísio Meira, Thiago Lacerda e outros. E de repente, em menos de um ano, aqui estou novamente, agora ao lado de Lima Duarte. Se o meu avô fosse vivo eu tinha-o morto de alegria! Era um sonho de toda a família ver-me na TV ao lado destas pessoas... Tenho essa grande sorte e estou a tentar aproveitá-la da melhor forma.

- Ficou nervosa com esse convite?
Na primeira novela fiquei mais. Agora, fico mais tranquila ao entrar no estúdio. Na primeira vez não. Sabe quando se tem frio e suor ao mesmo tempo? Eu sentia-me assim! De vez em quando ainda fico assim mas já tenho mais tranquilidade ao ouvir a voz do realizador! E esta novela é diferente, é um trabalho de época, passa-se nos anos 30. As meninas não podiam cruzar as pernas, além de um conjunto de outros gestos que tive de aprender. O meu sotaque foi aproveitado mais uma vez mas com um ‘temperinho’ a mais. Está mais ‘mineirinho’!

- E como é fazer de filha do Lima Duarte, para mais na pele de uma rapariga muito travessa?
Quando nos encontrámos pela primeira vez, olhei para ele e fiquei encantada. Reparei que ele tinha os olhos verdes e disse-lhe isso. E ele respondeu: ‘Quando uma mulher percebe isso já é meio caminhho andado!’ Eu dei uma gargalhada e descontraí, perdi o medo de dizer o que quer que fosse. Porque no início era mais ‘o que é que eu digo? É o Lima Duarte!’

- Não pensou antes como é que o ia tratar, se por senhor Lima ou só por Lima?
Claro! Mas hoje já estou a comer do pastel dele. Havia um pastel em cena, que os meus ‘noivos’ tentavam oferecer-me, e então eu perguntei-lhe se podia dar uma dentada no pastel dele. Ele tornou-se meu colega e sinto um grande orgulho em poder dizer isso.

- A sua personagem é Florinda, uma menina desesperada por casar.
Ela mora numa cidade pequenina, no interior de Minas, e tem uma irmã mais velha. Naquela época os pais não deixavam as meninas casar se tivessem uma irmã mais velha. Tinham de casar por ordem. Por isso a minha personagem está à frente da época. Quer saltar etapas e casar primeiro do que a irmã, porque tem medo de ficar para tia. Ela é totalmente neurótica com a ideia do casamento. Por isso mete-se em bastantes confusões e situações engraçadas. É uma personagem cheia de humor.

- Mas ela acaba por se apaixonar, de facto...
Sim, apaixona-se por um jornalista. Ele é da capital e vem para o interior. Ela deslumbra- -se com ele, mas acho que vai ser enganada. Bem, não sei, porque de repente ele pode ter comprado gato por lebre! Ela é toda certinha, meiga, ambiciosinha, mas quer casar, e não vai ser fácil para ele.

- E o que acontece depois, ela tenta casar com ele?
Não sei. No início de cada novela há uma sinopse mas na de Manoel Carlos não. Eu li e a história está toda desenhada, mas quando vai para o ar o autor vai vendo junto dos telespectadores o que vai acontecer. É o público quem dirige as novelas. Se o público quiser que determinada personagem morra ela tem de morrer, porque ninguém aguenta. No fundo, o público tem um controlo remoto, por isso tudo pode mudar. Acaba por ser engraçado porque nos filmes e no teatro não é assim.

- Tinha a ideia de que fazer novelas era deste modo?
Não. É um mundo totalmente diferente porque não sabemos o que vai acontecer. Nem eu, nem quem está em casa. Agora o que sei é que já estou aqui dentro!

- Foi esta vida que imaginou quando entrou para o ‘Big Brother’?
Não. Eu só queria ganhar dinheiro. Queria trabalhar. Tentei ser modelo mas uma menina do interior, aqui no Brasil, não tem dinheiro para fazer um ‘book’ e virar modelo. Então o que é que faz? Inscreve-se em concursos de beleza no bairro da cidade. Aliás, foi assim que eu comecei, só que não dava dinheiro nenhum. Só ganhava secadores de cabelo. Quando o prémio era um carro eu perdia mas quando era um secador ganhava. Então comecei a pensar: ‘Meu Deus, mas que má sorte, que coisa horrivel! Mas não vou desistir!’ E foi a minha mãe quem insistiu para eu me inscrever no ‘Big Brother’. Eu não queria porque achava que era tudo mentira e que as pessoas eram previamente escolhidas. Achava que era tudo ‘marmelada’. A realidade é que fui escolhida por carta, fui chamada, participei, e foi lá que tudo aconteceu. E já vai fazer três anos.

- O que é que mudou na sua vida profissional?
Tudo! Só não mudou o que eu penso e o que a minha família me ensinou. Agora, por fora mudou muita coisa. É casa nova, carro, conta no banco. A minha vida hoje é de rainha.

- Como é ser abordada pelo público na rua?
No Rio de Janeiro é tranquilo. Mas quando vou para o Nor-deste as pessoas são mais carentes. Querem tocar, dar um abraço, beijar, desejar sorte. E isso é bom. Às vezes sou eu que pergunto o que estão a achar da novela e acabo por entrevistar as pessoas! (risos)

- Gosta de viver na cidade do Rio de Janeiro?
Gosto, apesar de aproveitar pouco. Vou pouco à praia. Fui duas vezes à praia, em duas semanas diferentes, e tiraram- -me fotografias. Essas fotos venderam tanto que pensei ‘vão julgar que eu sou vagabunda, que não trabalho’. Saiu em todo o lado essa foto. Parecia que eu tinha ido todos os dias à praia.

- Como lida com essa falta de privacidade?
Já me acostumei. Não é que seja falta de privacidade, é mais uma consequência do meu trabalho. Então se eu não me adequar a isso é melhor eu não trabalhar nesta área. Mas como eu gosto...

- Tem a preocupação de se arranjar para sair à rua?
Não. Penso que as pessoas gostam de gente, acima de tudo. Ando descalça, saio de cabelo preso. Há pessoas que se cruzam comigo na rua e perguntam ‘você é a Grazi?’. Porque não imaginam que eu posso estar a passear a pé num sítio qualquer. As pessoas idolatram um pouco os actores e acho que isso não é bom. Não é preciso idolatrar, nós não somos seres superiores, só temos um trabalho diferente dos outros.

- Não se sente só quando chega a casa, já que não tem cá família?

Tenho a moça que trabalha para mim e peço-lhe que durma lá em casa, para eu não ficar sozinha! Mas também tenho o meu namorado, que agora está a fazer um filme e está em São Paulo. No fim-de-semana estamos sempre juntos. Trabalhamos bastante e é gostoso encontrarmo-nos ao fim-de-semana.

- Sente-se uma menina do interior numa cidade grande?
Essa pergunta foi boa! (risos) Nunca ninguém a fez! Sinto. Penso que trouxe comigo um pouco do interior, tanto que aqui moro quase no meio do mato, num lugarzinho onde há corujas, passarinhos...

- Costuma ir visitar a família ao interior?
Ultimamente não. São eles que vêm a minha casa. Até porque aqui há mais novidades. Shoppings, restaurantes...

- Não sente falta de ir lá? Das pessoas, das comidas?
Vou lá uma vez por ano, porque é longe. Mas a minha mãe e o meu pai vêm muitas vezes cá.

- Tem dito que uma das coisas que a deixam mais feliz nesta profissão é poder ajudar a sua família.
Isso é tão bom... Tudo aconteceu de forma muito rápida e muito bonita, é quase um conto de fadas. Vocês, quando estão com essas maquininhas assim (gravadores)... vem-me tudo à cabeça. Depois, então, chego a casa e continuo a pensar nisso.

- Não tem medo de que esse sonho desapareça?
Penso que foi bom enquanto durou, e enquanto durou eu aproveitei. Mas um dia tudo acaba, da mesma forma que um dia toda a gente morre.

- Qual é a sua ambição?
Ambição? Terminar esta novela com sucesso, tal como foi a primeira. E isso já é querer de mais.

- E teatro, gostava de fazer?
Era muita pretensão da minha parte querer fazer uma peça de teatro agora. Porque eu não sei. Fui atirada aos leões, mesmo...

- Mas fez formação?
Fiz a ‘oficina’ da Globo. Depois de ‘Páginas da Vida’, fui colher os frutos, pois não podia trabalhar por fora. Mas consegui vários trabalhos bons. Fiz campanhas publicitárias e vou fazer outra, agora internacional, para a L’Oréal Paris.

- Já conhece a Europa?
Fui a Paris e a Portugal depois da novela. Chamavam-me Grazi Massafera e fiquei admirada por saberem quem eu era.

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