terça-feira, 11 de dezembro de 2007

O rugido dos Xutos & Pontapés no Campo Pequeno

O circo regressou ao Campo Pequeno. Mas desta vez, os leões e os tigres ficaram de fora da. As verdadeiras feras foram os Xutos & Pontapés, naquele que foi o primeiro de três concertos de celebração dos 20 anos de "Circo de Feras"

Duas décadas após o lançamento do disco, em 1987, o Campo Pequeno encheu-se de fãs de todas as idades. Muitas t-shirts pretas com o famoso X - algumas saídas do baú - e miúdos e graúdos de lenço vermelho ao pescoço, a imagem de marca do vocalista dos Xutos, Tim.

Malabaristas e dançarinos estiveram em palco com a banda, recebendo os aplausos da plateia atenta às suas habilidades. Mas foi o grupo de percussão Wok que deu início à festa, pouco passava das 22h00. Num cruzamento entre o tribal e o futurista, os Wok surgiram munidos dos seus tambores e de muito ritmo.

As feras não tardaram a rugir, num palco apetrechado com um jogo de luzes ao melhor nível e de seis ecrãs de vídeo que acompanharam a narrativa de cada capítulo ao longo da noite. Tim (voz e baixo), Zé Pedro (guitarra rítmica), João Cabeleira (guitarra solo), Kalú (bateria) e Gui (saxofone) foram recebidos com a primeira grande ovação, interpretando uma versão instrumental do tema "Circo de Feras", eficazmente complementado com a percussão dos Wok.

"Sai P'rá Rua" e "Não Sou O Único" foram as primeiras canções já com a voz de Tim e deram desde logo a certeza de que o público estava conquistado desde o início, muitos há já 20 anos.

A emoção era tanta que o próprio vocalista dos Xutos não fugiu a uma gaffe: depois da primeira explosão de energia com a plateia a cantar «não sou o único a olhar o céu», Tim cumprimentou os fãs com um «boa noite, Coliseu!», esquecendo por momentos que a sala de espectáculos era outra.

Anunciada estava também a inclusão de alguns temas pré e pós-"Circo de Feras", e "Barcos Gregos", de 1985, foi o primeiro deles. "Desemprego" surgiu acompanhado de um dos números circenses, o Mastro Chinês, e "À Minha Maneira", do álbum "88", voltou a recuperar o coro das milhares de vozes que lotaram o Campo Pequeno.

E se é certo que os cabelos grisalhos e a barriga não deixam esconder os anos que já passaram desde a edição do primeiro LP com uma major - na altura a PolyGram, agora Universal - a verdade é que os grandes hits de "Circo de Feras" continuam bem vivos e tão electrizantes em palco como antes. Os Xutos & Pontapés disseram «olá» à "Vida Malvada" e seguiram para "A Minha Aventura Homossexual Com o General Custer" antes de um atípico intervalo que pareceu chegar cedo demais.

Depois de cerca de 15 longos minutos que quebraram inevitavelmente o ritmo ao espectáculo, o concerto recomeçou com um reprise de "Pêndulo" cantado por um coro de gospel, e abrindo caminho para a reentrada da banda em palco. "Estupidez" e "Lei Animal" prosseguiram a viagem pela carreira dos Xutos até nova saída de palco. Num momento intimista, a bailarina francesa Laurence Jardin dançou suspensa no ar ao som dos gemidos da guitarra de João Cabeleira.

De volta a "Circo de Feras", o disco, Tim surgiu acompanhado pela guitarra de Zé Pedro e o saxofone de Gui. O público acabou por ser o quarto elemento na interpretação de "Esta Cidade", cantando em uníssono cada verso da letra escrita pelo poeta João Gentil.

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