segunda-feira, 9 de junho de 2008

Alanis Morissette: Flavors Of Entanglement

Quatro anos após "So Called-Chaos", Alanis Morissette está de regresso aos originais com "Flavors Of Entanglement" (capa na imagem), o seu quinto disco de originais.

A canadiana que se deu a conhecer ao mundo enquanto uma maria-rapaz perdeu, de vez, o receio de mostrar o seu lado mais feminino e emocional. Assim, se no disco anterior tudo eram rosas e Alanis partilhava com o universo o facto de ter encontrado alguém com quem pretendia construir uma relação sólida e duradoura, o novo longa-duração é, pelo contrário, o álbum que conta a história da (dolorosa) separação. Nesse sentido, "Flavors Of Entanglement" marca o regresso à agressividade de "Jagged Little Pill", até à data o seu trabalho de maior êxito, com mais de 35 mil cópias vendidas em todo o mundo. Essa fúria manifesta-se, aqui, sobretudo através da temática das letras e está, assumidamente, relacionada com o final da relação da artista com o actor Ryan Reynolds. O resultado são canções viscerais, algumas delas a fazer lembrar o clássico 'You Oughta Know'. 'Underneath' e 'Straitjacket' são duas das músicas em que Morissette pratica esse dissecar de sentimentos espinhosos de "final de conto de fadas".

O novo disco apresenta uma acentuada vertente tecnológica, que mais não é do que o reflexo dos gostos adolescentes da cantora pela electrónica e o hip hop. Essa mudança de estética já havia, de resto, sido anunciada ao mundo no ano passado, com uma versão humorística de 'My Humps', dos Black-Eyed Peas', que se tornou num êxito, através do site Youtube. A colaboração com Guy Sigsworth (Björk, Madonna) é audível neste capítulo, com novas texturas electrónicas, aqui e além algo dançáveis, loops de bateria e vozes alteradas. Por outro lado há, também, faixas mais orgânicas, cuja sonoridade assenta no piano, tais como 'Not As We', uma forte candidata a single.

"Flavors Of Entanglement" é, em muitos momentos, um disco complexo e até indecifrável. Essa sempre foi, de resto, uma das marcas de água de Alanis Morissette: mais nenhum outro artista ia lembrar-se dos títulos que a canadiana tem atribuído aos seus trabalhos, de "Jagged Little Pill" a "Under Rug Swept", passando por "Supposed Former Infatuation Junkie". 'Citizen Of The Planet', o tema de abertura, será, porventura, uma das músicas mais inspiradas de todo o álbum, a par do single 'Underneath', da agressiva 'Versions Of Violence' e das introspectivas 'Tapes' e 'Not As We'. Scarlett Johansson pode ter ficado com Ryan Reynolds mas Alanis Morissette tem algo que a actriz dificilmente alcançará: um disco profundo e pleno de emoção. Treze anos após "Jagged Little Pill", Alanis pode não ter composto outra obra prima, no entanto continua a ser uma das maiores representantes do rock no feminino.

Sem comentários: